quinta-feira, 5 de julho de 2012

Jihad desde Maomé à Al-Qaeda

Para entender as diferentes interpretações de Jahid é preciso dar longos passos atrás na história. Na verdade, o conceito tem-se modificado ao longo de 14 séculos, de Maomé a Obama bin Laden.
Os Hadith, uma compilação de relatos das acções e ensinamentos de Maomé, esclarecem detalhes do Alcorão, facilitando indicações precisas quanto a tratados, espólios, prisioneiros, tácticas e muito mais. A partir desses preceitos, os juristas muçulmanos criaram mais tarde um conjunto de leis. Com efeito, o processo iniciado pelo Maomé teve um sucesso tão grande que, após oito anos de pregação e combate, o profeta conseguiu a submissão de Meca, no ano 630. Durante os anos que esteve no poder, Maomé travou, em média, nove batalhas militares por ano, por isso pode dizer-se que a Jihad ajudou a definir o perfil do Islão desde o princípio. O exemplo de Maomé e o califado dos seus quatro sucessores representam um período de referência para todos aqueles que regem a sua vida pelos ditos do Alcorão. “Os muçulmanos entendem que foi graças ao Alcorão que acabaram por realizar tantas e tão gloriosas conquistas” no passado, pegando desde logo nos exemplos de vida dos companheiros do profeta que sacrificaram as suas vidas pela fé islâmica (Costa, 2003, p. 23).

Com o fim das conquistas, altura em que dominou uma Jihad agressiva e expansiva, os não-muçulmanos deixaram de representar uma ameaça e ganhou espaço a Jihad Maior.
Entretanto, as Cruzadas - o esforço militar europeu para controlar a Terra Santa, na altura sob domínio dos muçulmanos turcos - deram à Jihad Menor, em concreto defensiva, uma nova urgência. No século XII, as invasões mongólicas subjugaram grande parte do mundo islâmico e alguns pensadores chegaram a fazer uma distinção entre falsos e verdadeiros muçulmanos e a conferir à Jihad uma nova importância, julgando a fé de uma pessoa pela sua determinação em lutar.

No século XIX, as Jihads chamadas “purificadoras” voltaram-se contra os próprios muçulmanos em algumas regiões, como na Arábia. Entretanto, o imperialismo europeu também inspirou os esforços de resistência jihadista em locais como a Índia, o Cáucaso, a Somália e Marrocos, mas todos fracassaram.

“O novo pensamento islamista surgiu no Egipto e na Índia nos anos 20, mas a Jihad só tomou a forma de uma guerra ofensiva radical com o pensador egípcio Sayyid Qutb, morto em 1966. Qutb retomou a distinção de Ibn Taymiya entre falsos e verdadeiros muçulmanos para acusar os não-islamistas de não serem muçulmanos e, assim, declarar uma Jihad contra eles. Então, o grupo que assassinou Anwar El-Sadat em 1981 acrescentou a ideia de Jihad como o caminho para a dominação mundial”, escreve Daniel Pipes (Pipes, 2005). Prémio Nobel da Paz em 1978 e presidente do Egipto entre 1970 e 1981, Muhammad Anwar Al Sadat foi assassinado por membros da Jihad Islâmica Egípcia infiltrados no exército e que se opunham às negociações com Israel.

Surgiu, entretanto, uma nova tendência dentro do Islamismo, que marca o crescimento do secularismo entre os muçulmanos, como na Turquia. A par deste crescimento, virou-se mais uma página em direcção à dominação mundial por parte dos muçulmanos, em concreto na guerra contra os soviéticos no Afeganistão, já que, pela primeira vez, jihadistas do mundo inteiro reuniram-se num país para lutar em nome do Islão. “Um palestino, Abdullah Azzam, tornou-se o teórico da Jihad global na década de 80 atribuindo-lhe um papel central sem precedentes, julgando cada muçulmano exclusivamente por sua contribuição à Jihad e fazendo desta a salvação dos fiéis e do Islão. O terrorismo suicida e Bin Laden não tardaram a surgir” (Pires, 2005). Entre a década de 90 e a actualidade, este sentimento tem crescido através da Al-Qaeda e de grupos semelhantes, que formam uma complexa rede mundial.

Referências bibliográficas:


COSTA, Helder Santos (2003), O Martírio no Islão, Lisboa, ISCSP.
PIPES, Daniel (2005), “A Jihad através da História”, in New York Sun (Consultado em http://pt.danielpipes.org/ em Dezembro de 2010).

Nota: Texto escrito em Dezembro de 2010.

Sem comentários:

Enviar um comentário